quinta-feira, 26 de março de 2015

"Eu queria um futuro, ela queria um presente..."

Dentre mortos e feridos, salvaram-se todos. No meio do turbilhão que foi o período compreendido entre nos conhecermos e o dia da fatídica briga onde paramos de nos falar – neste período aprendi muito com ela. E talvez a mais difícil de aprender e aplicar na minha vida tenha sido a irritante e inspiradora mania que ela tem de tentar ver o lado bom de coisas que talvez não tenham sido tão boas. Ela tem três tatuagens no corpo – uma feita após o término de cada um dos três relacionamentos que ela teve. Admito que é uma ideia que, até pouco tempo atrás, me era absurdamente estranha. Mas hoje faz sentido.Para alguém como eu, que não se furta a se entregar a paixões mas também não se furta a sofrer por elas, sequer pensar em algo assim seria impossível.
Mas eu comecei a tentar pensar assim. E é por isso que hoje, apesar de tudo, eu assumo, sem nenhum remorso ou vergonha: Ela me faz falta. Foi pouco tempo, mas a falta é muita. E é uma falta presente, que se manifesta o tempo todo, em todos os lugares, que pula para me assombrar escondida detrás de qualquer pensamento ingênuo e aparentemente inócuo. Logo eu, um romântico dramático que pensa como o Vinicius de Moraes, que, ao indagado pelo amigo Tom Jobim, que, depois de nove casamentos, quantas vezes ele ainda pretendia se casar, respondeu: “Quantas vezes for preciso”Eu me apaixonarei quantas vezes for preciso. Mas eu, assim como o poetinha, sofro. Pois, o parafraseando novamente, sei que “todo grande amor só é bem grande se for triste.”. Logo eu, que guarda até hoje luto de relacionamentos findos há dez, doze anos, logo eu, tentando ver o lado bom de algo que se findou. Logo eu.
Mas eu vejo. Vejo que ela me faz falta. Me faz falta o futuro que poderíamos ter tido, diferente de todos os futuros que eu já tive e de todos os futuros que eu viria a ter. Me faz falta o presente que vivemos, mesmo quando eu já estava no nosso futuro, e ela, no passado. Eu queria um futuro, ela queria o presente.Mas o presente não era suficiente para mim, e o futuro era um lugar distante demais para que ela sequer se preocupasse com isso. Me faz falta a confusão que ela causava na minha cabeça sendo sexual quando eu era fofo, e sendo fofa quando eu era sexual. Me faz falta ver, em seus olhos, o exato oposto do que ela me dizia. Me faz falta ela se aninhando no meu peito cinco minutos depois de dizer que estávamos “casalzinho demais”. Me faz falta a extrema felicidade dela, felicidade essa que não só nunca experimentei como nem consigo imaginar como é. Me faz falta a diferença entre nossos pontos de vista sobre o amor: o dela, racional, sempre mantendo o amor próprio, respeitando a individualidade. O meu, uma ventania que entra pela janela e derruba tudo, que ama o ser amado mais que a si mesmo, irracional, burro, raivoso, que sofre, mas que prefere sofrer que não amar.
Me faz falta, ela, musa alegre, otimista e leve, ter se interessado por mim, o prosador com alma de poeta romântico, que perde mais tempo construindo mundos imaginários e idealizando pessoas do que vivendo no mundo real com as pessoas de verdade. Me faz falta, inclusive, ela tentar me tirar da minha caverna. Me faz falta o simples fato de ela ter se proposto a entrar na minha caverna, correndo o risco de, como realmente aconteceu, ser vítima de um dos perigos escondidos nas trevas das pedras do fundo da caverna. E ela foi vítima. Algumas vezes. Me faz falta a calma desinteressada com que ela me perdoou depois de eu ter cometido verdadeiras atrocidades. Eu cometeria uma injustiça aqui se não citasse que muitas mulheres já perdoaram minhas atrocidades. Mas nunca em tão pouco tempo.
Me faz muita falta o eu que eu era com ela, o ela que ela era com comigo, e me faz muita falta o nós que nós éramos juntos. Me faz falta o olhar misto de espanto e alívio que ela me lançava a cada vez que se lembrava que tinha encontrado alguém que, em uma escala muito maior e, arrisco dizer, pior, refletia a própria personalidade dela. Não me faz nenhuma falta vê-la perceber, aos poucos, o quão difícil é conviver com alguém assim. Mas me faz muita falta o esforço que ela fazia para tentar me ajudar. Me faz falta demais vê-la chegando na minha casa para assistir um simples filme ou me ajudar a arrumar a casa, e somente vê-la indo embora dois dias depois. Me faz falta receber dela um convite para um sorvete, almoço ou cinema, algumas horas depois de ouvi-la reclamar que estávamos juntos demais.
Me faz falta, pasmem, a confusão que me causava tentar adivinhar o que ela pensava e sentia, e o turbilhão que era dentro de mim tentar perceber nela, mesmo com negativas verbais contrárias, fagulhas de paixão. Me faz uma falta danada o olhar dela me procurando no meio de dez mil pessoas em um ensaio de escola de samba. Me faz falta a admiração sincera que ela tinha por mim, e o interesse com o qual ela me ouvia dissertar durante horas sobre qualquer assunto idiota. Ouvi-la dizer que, mesmo estando brigada comigo, chorou muito ao receber as minhas flores, é uma coisa da qual eu sinto muita falta. Mas o que mais me faz falta é ouvi-la dizer, depois de uma semana sem me ver, que sentiu saudades de mim e que sentiu a minha falta, quando eu não tinha a menor ideia de que faria falta. E essa parte final me faz falta principalmente porque isso não vai mais acontecer.
PS: Deixo aqui duas poesias do Poetinha que fazem todo sentido.
“(…)
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer – e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.”
(Vinicius de Moraes, Soneto do Amor Maior)
**
Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais…
(Vinicius de Moraes, Tomara)

por Léo Luz em www.entendaoshomens.com.br

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

químicas e paixões....paixões e químicas...

Paixões e químicas

Por Sandra Djambolakdjian Torossian

As paixões são morada da juventude. Há paixões maduras que rejuvenecem quem avança na idade. Apaixonamo-nos pelas pessoas, pelo trabalho, pelos livros, pelo esporte, pelo ócio. Apaixonamo-nos, também, pelo que conseguimos consumir. Aliás, é esse um modo contemporâneo da paixão. Somos capazes, e cada vez mais incentivados, a apaixonar-nos pelas coisas, por objetos de mercado. Vislumbramos aí espectros da felicidade.
Fórmulas e pílulas mágicas nos indicam o caminho do sucesso e da realização. Tristezas, decepções e frustrações, comunas à vida de qualquer um, são rapidamente remediadas com medicações ou objetos a consumir. O fármaco, lembram os filósofos, é remédio e veneno. Remédio e veneno se alternam na dança do consumo. Qualquer medicação, prescrita para a cura, pode se tornar nociva dependendo do uso que dela se faça. E qualquer fármaco antecipadamente “nocivo” pode ser usado como medicação para os males da alma.
A química é um dos nomes da droga. Mas a química é, também, um dos nomes da atração. Não tem química, diz quem busca explicações para a falta de paixão.
Há vários modos de se ligar passionalmente ao outro. Há o ficar eventual, o ficar habitual e o ficar mais constante. Há, também, vários modos de se ligar às drogas.
A experimentação eventual é um início de exploração que pode durar uma vida inteira. Como há quem se relacione eventualmente com a mesma pessoa durante anos.
O hábito nas relações é, por outro lado, um tipo de relação comumente encontrada no amor e em quem consome drogas. Hábito para momentos ou circunstâncias específicas, de lazer, trabalho, ansiedade, solidão.
“Ficar” habitualmente com alguém em festas; consumir drogas para aproveitar a balada. Sair com alguém nos momentos de solidão; usar alguma substância que faça companhia. Sair rapidamente com o(a) colega de trabalho; dar uma “cheiradinha” para enfrentar uma árdua jornada.
Compartilhar com alguém um casamento; casar com alguma droga.
Não se assuste caro leitor, amor e consumo não são equivalentes. São relações. Relações amorosas, relações de consumo. Por vezes o amor torna-se relação de consumo. O inverso é também verdadeiro.
Uma paixão ou um amor se cura com outra/o, diz a sabedoria popular. Raramente sugerimos a alguém que sofre um “mal de amor” que restrinja suas relações. Ao contrário, oferecemos várias outras possibilidades. Apresentamos-lhe novas pessoas, o convidamos para eventos, atividades. Tentamos abrir outras possibilidades de escolha.
Curiosamente, até agora, temos feito diferente com as paixões químicas. Temos achado que a única solução para ela está na restrição das atividades. Temos fechado as pessoas em hospitais ou clínicas, limitando suas possibilidades de amizade, limitado suas outras relações. E muitas vezes sem sequer saber qual é mesmo o modo de relação no qual se encontra. Internamos trabalhadores consumidores de droga, quando muitas vezes o trabalho é uma das únicas relações que mantém a pessoa com um laço comunitário. Decretamos um casamento com a droga quando se trata simplesmente de um ficar eventual.
Do mesmo modo que um amor se cura com outro, a saída para as paixões químicas está na criação de outras relações passionais. E não na limitação das possibilidades de se apaixonar.
Há vezes em que um casamento intenso ou de longa duração implica em recaídas. Idas e vindas comuns a quem viveu um amor intenso ou uma relação de hábitos comuns. Especialmente para quem estabeleceu relações de dependência com seu parceiro ou parceira.
Idas e vindas no consumo e dependência às drogas são também comuns. Há que suportá-los.
Às vezes os casais em processo de separação precisam se distanciar, sem manter qualquer tipo de contato. Também isso acontece com as paixões químicas. Mas precisa ser uma escolha e não uma imposição. Na imposição, o efeito é breve. Uma escolha acompanhada pela amizade, pela paciência e pela parceria de quem disponibiliza um suporte abre caminho para novas escolhas.
Internações compulsórias e repressão exclusiva da oferta são lógica exclusiva da limitação, uma política de restrição, sem a criação simultânea de outras possibilidades. Precisamos urgentemente de soluções que abram possibilidades de novas paixões e não que limitem ainda mais os recursos dos apaixonados.

Sandra Djambolakdjian Torossian é psicanalista. Membro da APPOA. Profa. do Instituto de Psicologia da UFRGS/ Departamento de Psicanálise e Psicopatologia.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

"Eu acho que o tempo anda passando a mão em mim..."

https://soundcloud.com/dj440/dj-440-vida-tempo-viviane-mose-grooveria-mix

Ela é perfeita, mas não sabe

Geralmente, eu chego em casa cansado. Jogo minhas roupas pelo chão do quarto e sento no sofá com aquela cara de acabado. Ela chega, me grita atenção e fala como uma doida de como foi seu dia. Eu fico entre um “uhum” e outro. Entre uma risada e outra. Mas fico com olhos e ouvidos bem atentos, como um menininho ouvindo uma história de uma heroína que salvou a cidade e ainda lembrou de passar no mercado para comprar meu iogurte predileto.
Ela me faz massagens quando eu peço. Mas só aceita fazer caso eu prometa fazer nela também. Ela trabalha, estuda, inova em seu visual, malha, prepara a comida e ainda arruma tempo para me amar e me pedir para levá-la ao cinema. Às vezes, eu penso como é louco o amor. No começo, eu passava noites em claro só para descobrir a melhor forma de conseguir ter um encontro com ela. E, hoje, ela é quem me convida. No primeiro encontro, eu passei quase duas horas inteiras me arrumando. Coloquei minha melhor roupa e me encharquei com meu melhor perfume só para agradá-la. Hoje, ela me acha lindo de moletom ou suado após o futebol.
Ela me espera. Ela fica ansiosa para me ver e me liga só para dizer que está com saudades. Ela diz que ama e que morre de tesão por mim. Ela me faz carinhos e arranhões que nunca tive e me beija o corpo inteiro. Quando briga comigo por ciúmes é por medo de me perder.
Ela é perfeita, mas não sabe.
O meu lado possessivo até acha isso bom porque no dia que ela perceber que ela é dez mil vezes melhor do que qualquer mulher nesse mundo, vai querer outro cara dez mil vezes melhor do que eu.
E há vários caras perfeitos por aí.
Mas não sei como, ela se encantou por minha barba mal feita, por minhas piadas sem graça e por meus olhos cansados.
Bendita a sorte a minha.
Até hoje, não sei o que falei para ter roubado a atenção dela. E, se um dia descobrir, falarei o dia inteiro. Trato-a como uma rainha tendo a certeza de que não sou merecedor de um lugar em teu altar. Mas me esforço tanto que ela acha graça até das minhas imperfeições.
Você já parou para pensar na sorte que tem em ser o sonho da mulher dos seus sonhos?

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Se você voltar....


Um dia, vocês estão bem.                                                                                                                          
 De repente, você muda de ideia.                                                                                                                
  Vai embora.                                                                                                                                             
Só pra você saber.                                                                                                                                  
 Ela ia se casar com você.                                                                                                                    
Hoje, ela está bem.                                                                                                                                    
De repente, você liga, e diz: “Não fiz tudo o que poderia ter feito. Quero voltar.”                             
 Se um dia, você voltar, pelo bem dela, aprenda algumas coisas.                                                         
Faça mais do que ela espera.                                                                                                               
Levante e faça o café.                                                                                                                                
 Dê um sorriso, e não se esqueça, cafuné.                                                                                             
  Se um dia, você voltar, seja sincero.                                                                                                   
  Não traga as mesmas histórias.                                                                                                            
  Jogue fora as roupas velhas.                                                                                                                 
Cante músicas novas.                                                                                                                             
 Encha o pulmão.                                                                                                                                         
   Dance sem razão.                                                                                                                       
  Apaixone-se, além da racionalidade.                                                                                                   
Se um dia, você voltar, seja atencioso.                                                                                             
 Uma vez ou outra, leve o café na cama.                                                                                             
 Sussurre no escuro: “O que você sempre quis fazer, mas ainda não teve oportunidade?”                  
Se um dia, você voltar, seja presente.                                                                                                
  Uma vez ou outra, compre flores e deixe um cartão:                                                                           
“Eu não posso deixar de te amar, nem por um segundo.”                                                                       
  Seja educado.                                                                                                                                        
Não levante a voz.                                                                                                                                 
O grito da manhã é o silêncio na noite.                                                                                                     
   Se um dia, você voltar, não seja tão egoísta.                                                                                    
   Faça um gesto inesperado.                                                                                                             
 Desmarque o futebol.                                                                                                                                       
Leve-a pra jantar.                                                                                                                                  
 Quando ela se arrumar, segure a mão dela.                                                                                          
 Tenha aquela sensação no peito.                                                                                                          
   É ela.                                                                                                                                                    
Escute a sua respiração.                                                                                                                          
Você precisa dizer: “Eu amo você.”                                                                                                        
 Ponto final.                                                                                                                                         
  Ah, antes,                                                                                                                                              
 aquele vestido não é para outras mulheres.                                                                                             
   É pra você.                                                                                                                                        
    Se um dia, você voltar, seja fiel.                                                                                                      
Onde começa a mentira,                                                                                                                   
 termina a confiança.                                                                                                                            
   O amor é uma escolha.                                                                                                                     
    Não um sacrifício.                                                                                                                                   
Se um dia, você voltar,                                                                                                                       
 entregue seu coração.                                                                                                                  
  Somente assim,                                                                                                                                    
 você poderá guia-lá pela mão.                                                                                                                
Se um dia, você voltar,                                                                                                                         
faça um voto silencioso,                                                                                                                           
  de protegê-la do mundo.                                                                                                                         
Se um dia, você voltar,                                                                                                                 
   decida quem você quer ser.                                                                                                                            
Um eterno jogador,                                                                                                                                   
 ou o amor?                                                                                                                                                   
Se um dia, você voltar,                                                                                                                             
 seja responsável.                                                                                                                     
     Algumas palavras usadas, não podem ser retiradas.                                                                           
Então, não se esqueça, das palavras que falou.                                                                                    
   Das promessas que quebrou.                                                                                                              
   Se um dia, você voltar,                                                                                                                            
tenha intimidade.                                                                                                                                 
    E isso não é apenas puxar o cabelo,                                                                                                        
      e prender na cama.                                                                                                                             
Procure abraçar, apenas, para aquecer.                                                                                                 
    Cuide dela,                                                                                                                                              
    e ela cuida de você.                                                                                                                                
  Não vire para o lado.                                                                                                                             
Procure palavras.                                                                                                                                         
A conversa e o sexo andam de mãos dadas.                                                                                         
Se um dia, você voltar,                                                                                                                            
o futuro estará ao seu lado.                                                                                                                     
O passado, por favor,                                                                                                                          
  deixe de lado.                                                                                                                                    
  Se um dia, você voltar,                                                                                                                     
coloque o amor,                                                                                                                                        
    em primeiro lugar.                                                                                                                                     
Irão lhe chamar de louco.                                                                                                                     
 Se você desistir,                                                                                                                                          
que bom,                                                                                                                                                  
não era amor.



Aqui: http://www.thebrocode.com.br/artigo-238-se-voce-voltar/